Ontem, 18 de maio de 2020, a empresa farmacêutica Moderna anunciou bons resultados nos testes da vacina contra a COVID-19 que vem desenvolvendo nos Estados Unidos. Em meio a tantas notícias difíceis,  esta  informação deixou muita gente esperançosa quanto ao surgimento de uma vacina ainda este ano. Então vamos tentar entender mais sobre isso. Será que podemos mesmo esperar por esse resultado? Essa é a única vacina que pode estar disponível? Quando? Será segura? Vai ser distribuída pra todo mundo?

Aliás, o que é vacina?

Vamos começar pela última pergunta.


Vacina é um preparado biológico, um conjunto de diferentes componentes que serve para provocar no nossos organismos reações que vão protegê-los das doenças. Faz com que a gente desenvolva imunidade especificamente contra determinada doença, ou seja, elas ensinam o nosso organismo a se defender.Esta imunidade pode durar pouco tempo, como é o caso da gripe, fazendo com que a gente precise tomar novas doses todos os anos; ou muito tempo, como é o caso da hepatite A, do sarampo e da caxumba, por exemplo, cujas vacinas nos protegem para o resto da vida.  É uma forma de termos  defesa sem a necessidade de primeiro ter a doença e isso é tudo o que a gente quer. Portanto, é uma forma de prevenção – segura e eficaz – contra patologias que, até pouco tempo, dizimavam populações inteiras.

E quando falo populações inteiras não é exagero. Entre 1900 e 1980, por exemplo, a varíola – doença parecida com a catapora, mas muitíssimo mais perigosa – matou 300 milhões de pessoas ao redor do mundo e só foi contida com a vacinação em massa. Mas eu nunca ouvi falar em varíola! Pois é. Você nunca ouviu porque a vacinação foi capaz de derrotar a doença. E é isso que as vacinas fazem.

Quer ver um outro exemplo? Poliomielite. A poliomielite é uma doença grave que pode deixar sequelas motoras no paciente, o que significa que o paciente tem chance de ter paralisias para o resto da vida. A vacina que muitas gerações de brasileiros tomaram (alguém aí se lembra do Zé Gotinha?) foi capaz de eliminar a doença quase que no mundo inteiro. No Brasil, o último caso aconteceu em 1989. Mas eu também nunca vi poliomielite! De novo, você nunca viu, porque a vacina funciona e todo mundo tomou. Felizmente!

E o que você diria se eu lhe contasse que existe uma vacina contra o câncer? Você tomaria? Claro, não é? Pois bem, existe. É a vacina contra o HPV, vírus que provoca o câncer de colo de útero, dentre outros cânceres. É, como as outras, segura e eficaz!

(Aliás, é importante saber que nosso país tem um programa espetacular de vacinação e oferece dezenas de vacinas de forma completamente gratuita através dos postos de saúde: tuberculose, sarampo, caxumba, rubéola, difteria, poliomielite, febre amarela, tétano… e muitas outras (para se lembrar sobre o calendário de vacinação brasileiro – e tirar outras dúvidas sobre vacinas – clique aqui). Em outros países, como nos Estados Unidos, estas vacinas são todas pagas. Você sabia?)

É por isso que tomar as vacinas do calendário oferecido pelos Postos de Saúde é tão importante, para que estas doenças não voltem jamais – se pararmos de tomar, elas têm chance de voltar. Mas queremos que sumam – sejam erradicadas, como a gente diz – porque sabemos que isso pode acontecer. E também é por isso que a gente corre para as vacinas todas as vezes em que uma doença aparece e nos ameaça tanto, como é o caso da COVID-19 neste momento.


Mas as vacinas não causam outros problemas de saúde, como o autismo? NÃO e esse é um capítulo muito triste para toda a Ciência. Em 1998, um pesquisador britânico sugeriu que a vacina contra o sarampo causaria autismo. Imaginem só a confusão: sarampo mata (mata?? SIM), é extremamente transmissível e a vacina contra ele é muito eficaz. Mas e se a vacina causasse mesmo autismo? Como ficaríamos?

Acontece que não era verdade (leia aqui sobre a vacina e aqui sobre o mercúrio contido em algumas delas). O pesquisador fraudou dados (mentiu sobre os pacientes) e, descobriu-se depois, tinha patenteado uma versão própria da vacina contra a doença. Inúmeros estudos depois – um deles com 650 mil crianças! – provaram que não havia ligação entre a vacina e o autismo, mas aí o estrago já estava feito. Muita gente passou a acreditar na mentira contada por um criminoso. Em 2010, a revista científica que primeiro publicou o artigo retratou-se formalmente (leia reportagem aqui) dizendo que “jamais deveria ter publicado o artigo”. O pesquisador, que também era médico, teve seu registro cassado (matéria da época aqui) por desonestidade e irresponsabilidade. Uma mancha terrível na luta contra as doenças infecciosas.


Vacinas são seguras, eficazes e grandes responsáveis por salvar milhões de vidas ao redor do mundo


Agora que você já sabe um pouco mais sobre a importância das vacinas, vamos ao personagem do momento! E na COVID-19? O que podemos esperar?